Da Pan à Cacau Show: qual sabor queremos para o nosso futuro?
Terminou uma era doce em São Caetano do Sul com o encerramento da história da amada fábrica de chocolates Pan. Após decretar falência, a fábrica colocou à venda seu terreno de 10.432 metros quadrados, desencadeando uma competição acirrada entre potenciais compradores.
O destaque fica para a Cacau Show, gigante brasileira do setor, que lançou uma oferta significativa de 70 milhões, disputando com a DGD Participações LTDA (MAXX), que ofereceu R$ 65 milhões, e a construtora Patriani que fez uma oferta de 70 milhões condicionada à realização de estudos ambientais do solo, que deverão ser concluídos em até 180 dias, com um laudo que ateste a ausência de contaminação que possa inviabilizar um futuro empreendimento imobiliário no local.
O interesse da Cacau Show pelo terreno da fábrica Pan sinaliza que a empresa está viva no mercado e disposta a fazer aquisições. Isso porque a compra da Garoto, Kopenhagen e da Brasil Cacau pela Nestlé, fez com que a Cacau Show pulasse da segunda para a terceira posição da fatia de mercado doméstico de chocolates finos no Brasil, segundo a consultoria Euromonitor.
Apesar disso, a Cacau Show passou a liderar o ranking das maiores redes de franquias no país por unidade de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Na edição deste ano, a Cacau Show conquistou o topo pela primeira vez, após aumentar em 33,1% o seu número de operações. Hoje, a marca tem 3.763 unidades distribuídas pelo país, que incluem 120 novos produtos em seu portfólio e um faturamento de R$4 bilhões em 2022, um aumento de 32% em relação ao faturamento de 2021. Para este ano é esperado a abertura de 600 lojas e um aumento de receita em 25%, chegando em R$5 bilhões.
“Este é um ano de estabilidade. Não é simples crescer mil lojas em termos de sistemas e produtos. Nossa indústria consegue atender tranquilamente 4.000 lojas, mas precisamos entender este organismo vivo, que não deixa de ser maior do que fizemos na média histórica”, diz Alexandre Costa, fundador da Cacau Show, segundo o portal NeoFeed.
Segundo estudos macro de mercado brasileiro este crescimento apresenta viabilidade. Já que o consumo per capta de chocolate no Brasil ainda é muito baixo. De acordo com a Euromonitor, o brasileiro consome 1,2 quilos/ano, ante 4,4 quilos do americano, 7,9 quilos do alemão e 8,8 quilos do suíço. Ou seja, há espaço para expansão, principalmente na região do Grande ABC.
O Grande ABC apresenta o quinto maior mercado consumidor do país e alto poder de compra. O salário médio mensal dos trabalhadores formais da região é de 3,2 salários-mínimos, segundo dados do IBGE de 2021.
Paralelo a isso, as famílias estão conseguindo quitar suas dívidas, após o anúncio do programa Desenrola do Governo Federal. Os estudos do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) com apoio da Agência de Desenvolvimento Econômico Grande ABC, mostram que o número de inadimplentes residentes na região caiu (-1,52%) em setembro de 2023. A queda na inadimplência foi maior que a média da região Sudeste (-0,33%) e maior que a média nacional (-0,39%).
Além disso, Gabriel Galípolo sinalizou expectativas deque o Banco Central manterá o ritmo de corte da taxa básica de juros (SELIC) em 0,5 ponto, chegando em 12,25%, apesar do cenário global adverso. Essas variáveis configuram cenário atrativo de investimentos no setor produtivo e o reaquecimento do mercado consumidor na região.
A movimentação da Cacau Show de vir para São Caetano do Sul sinaliza a possibilidade de reindustrialização e investimentos contínuos no setor produtivo de chocolates, que carregam raízes profundas na memória afetiva dos moradores por conta da antiga fábrica Pan. Além disso, representa a manutenção e expansão da cadeia produtiva, geração de riqueza, trabalho e renda a longo prazo na cidade e na região.
Entretanto, a empresa tem o desafio de comunicar claramente seus planos.
É crucial que a Cacau Show, na figura do seu principal símbolo, Alexandre Costa, fundador da organização, publique uma carta de intenções que demonstre seu compromisso com a cidade, especialmente, em relação à absorção dos trabalhadores da antiga fábrica Pan e a continuidade dos investimentos no setor produtivo local.
Por falar de trabalhadores, além da carta de intenções com o terreno da antiga fábrica Pan, a organização precisa se posicionar sobre a proposta do reajuste salarial dos funcionários da planta de Itapevi. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (STILASP) propõem um reajuste salarial de 6%, enquanto o sindicato patronal propõe 4%, ou seja, um reajuste abaixo do IPCA acumulado nos últimos 12 meses, segundo IBGE.
A reflexão que fica é: o que impede uma organização que se diz que se preocupa com seus funcionários, mas não reajusta salário de acordo com a proposta sindical, sabendo que houve um aumento do número de franquias em 33,1%, além do aumento de 26% da produtividade, que proporcionou um aumento de 32% em relação ao faturamento de 2021, e que tem como projeção crescer 25% da sua receita em 2023?
Embora otimista, a perspectiva de a Cacau Show centralizar sua produção no terreno da antiga fábrica Pan pode ser um desafio devido aos grandes investimentos em maquinário e alta gestão. Além disso, a capacidade produtiva de absorver uma alta demanda na planta de Itapevi, mesmo em períodos sazonais, como páscoa, dia das mães, dias dos namorados, natal e final de ano, inviabilizaria a construção de uma nova fábrica em São Caetano do Sul.
A hipótese recai na possibilidade de a empresa investir numa loja Mega Store, semelhante à unidade da cidade Itapevi e Santo André aproximando e elevando o nível de experiência dos consumidores com a marca.
Outra hipótese e, agora, uma sugestão muito pessoal, é a de apostar no segmento de atrações turísticas regional em parceria com o consórcio intermunicipal, uma espécie de: “A Rota do Chocolate”, passando por São Caetano do Sul, Santo André e finalizando em Ribeirão Pires, cidade tradicionalmente conhecida pelo Festival do Chocolate.
Pode ainda estar nos planos da Cacau Show apostar na estratégia store in store para valorizar o ponto comercial e vendê-lo posteriormente ou ainda investir num grande centro de distribuição, devido à matriz logística da região.
A população de São Caetano do Sul aspira a vinda da Cacau Show, mas como dito anteriormente, a empresa precisa apresentar uma carta de intenções demonstrando seu compromisso com setor produtivo, com a geração de emprego e renda, bem como uma posição favorável em relação a absorção dos antigos colaboradores da fábrica Pan. Desta maneira, ganhará a sensibilização dos agentes econômicos.
Embora haja essas dúvidas sobre as intenções da Cacau Show, a proposta da DGD Participações LTDA (MAXX) e da construtora Patriani, parece enfrentar maiores obstáculos. Além de oferecer um montante menor pela área do terreno, a verticalização da cidade traz preocupações quanto à qualidade de vida dos moradores. O aumento populacional traz impactos negativos nos serviços públicos, sobrecarregando a mobilidade, saúde, educação e segurança dos munícipes.
A batalha pelo terreno da antiga fábrica Pan não é apenas uma transação comercial, mas uma narrativa que influenciará no futuro do desenvolvimento econômico e no bem-estar social dos munícipes de São Caetano do Sul.
A doce competição entre Cacau Show, DGD Participações LTDA (MAXX) e Patriani está apenas começando, e os moradores aguardam ansiosos para ver qual sabor o destino reserva à cidade.
Por fim, quero agradecer o artista Lucas Elias do Nascimento, meu ex-aluno de marketing da ETEC de Sapopemba, por ter pintado e ilustrado a imagem deste artigo.
Autor: Professor Bruno Castro
Administrador pela Faculdade FIA de Administração e Negócios (FIA-USP), pós-graduado em administração pública, pós-graduando em gestão educacional pela Fundação Salvador Arena, licenciando em história, professor do Grau Técnico. Email: bruno.conceicao48@etec.sp.gov.br
- Crédito da Imagem: Lucas Elias
- Fonte e texto: Bruno Castro
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